Por que mesmo com níveis de confiança tão elevados e margens de erro relativamente pequenas ocorrem discrepâncias entre os resultados finais das eleições? Por que as pesquisas são tão desacreditadas por quem está “atrás” e tão exploradas por aqueles que “lideram”? O jornal O Estado ouviu alguns especialistas para tentar entender se as pesquisas realmente influenciam o voto e até que ponto isso acontece.Assim como em outras regiões do País, os candidatos aprenderam, se é que já não sabiam, que devem ser esperados alguns sustos quando começa a apuração das urnas. Prova disso, foi o resultado do candidato do PDT à Prefeitura de Fortaleza, Heitor Férrer, que, nem o levantamento de boca de urna – realizado após o final da votação – apontava o postulante na terceira posição. Logo no começo das apurações, o pedetista, por alguns segundos, chegou inclusive a liderar a disputa. Contudo, não alcançou o segundo turno por 2% de diferença do segundo colocado: o candidato do PSB, Roberto Claúdio. Heitor obteve 20,97% dos votos válidos. Para cientista política Carla Michelle, da Estácio/FIC, a divulgação dessas pesquisas acaba formando maiorias. Isso porque, de certa forma, acaba servindo para inibir qualquer opinião contrária ao consenso fabricado. Por que isso acontece? Segundo ressaltou, algumas pessoas acabam não querendo serem identificadas com os possíveis derrotados nas eleições. Antes, o que era apenas aparência acaba tornando-se uma opinião sedimentada entre a população. Assim, a democracia fica sempre exposta à propaganda desigual dos meios de comunicação. Carla Michelle, por sua vez, defendeu um maior controle na divulgação das pesquisas. Acrescentando que, no caso do Heitor Férrer, o maior erro foi identificado na apuração boca de urna. MídiaPara o professor Rosendo Amorim, da Universidade de Fortaleza, as pesquisas sinalizam, mas não determinam. Conforme destaca, elas apenas revelam o que o candidato está fazendo no mundo real e na mídia. No caso dos eleitores indecisos, de acordo com Rosendo, eles são somente não declarantes, pois vinculados ao clientelismo que distribui os cargos públicos entre os correligionários, acabam não divulgando sua intenção de voto por medo de represália. Ainda segundo ele, a pesquisa até poderia apresentar um crescimento do pedetista, mas não tiraria a posição dos candidatos das máquinas. (Laura Raquel, da Redação). PDT pode entrar com representaçãoDois dias após a divulgação do resultado do primeiro turno nas eleições municipais, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) estuda entrar com representação contra o Instituto de Pesquisa, por conta da divulgação dos resultados. Pelo menos, foi o que comunicou o presidente estadual do partido, deputado André Figueiredo.A resolução foi conversada durante reunião na noite de ontem, e, portanto, será apresentada, hoje, durante coletiva às 9 horas, no comitê de imprensa da Assembleia Legislativa. Segundo ressaltou, o partido pretende transformar Fortaleza em um exemplo contra a farsa dos resultados das pesquisas divulgadas durante o período eleitoral. Em nota, o Ibope reconheceu que não captou o crescimento do candidato do PDT à Prefeitura de Fortaleza, Heitor Férrer, na “última hora”. Por outro lado, afirmou que este foi o único fator em que o Instituto não errou nas pesquisas. Apurando, assim, corretamente todas as demais movimentações e prevendo corretamente 92% dos votos da Capital. André Figueiredo informou que a nota não repara o dano causado ao Município e à candidatura de Heitor Férrer, acrescentando que inúmeras pessoas afirmaram que deixaram de votar no pedetista por conta da divulgação das pesquisas. Segundo ressaltou, a cidade de Fortaleza foi enganada. Ele pretende apresentar um pedido de CPI das pesquisas. A equipe do jornal O Estado tentou contato com o deputado Heitor Férrer, mas o celular estava desligado. O pedetista foi considerado a surpresa das eleições deste ano. Ele derrotou Moroni Torgan e disputou, até o final, voto a voto com o candidato Roberto Claúdio (PSB). Heitor obteve 20,97% votos válidos, ficando na terceira colocação.