As deputadas estaduais Fernanda Pessoa (PSDB) e doutora Silvana (PR) usaram a tribuna da Assembleia Legislativa, durante sessão de ontem, para repudiar uma suposta declaração do pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, que teria comparado as igrejas ao narcotráfico.
Segundo Fernanda Pessoa, o ex-ministro manifestou preocupação com financiamento ilegal de campanha e ressaltou que as eleições podem ser fraudadas “por quem circula com grandes quantidades de dinheiro em espécie. Por exemplo, igrejas e narcotráfico, que estão praticamente se explicitando sobre a mesa”.
Para Fernanda Pessoa, a declaração foi “infeliz”, já que as igrejas “ajudam o povo” com projetos sociais e visam fazer o bem. “Ciro Gomes quis dizer que, como o dinheiro dos dízimos não é declarado, pode ser usado como caixa dois. Isso é absurdo, ainda mais quando compara a igreja com o narcotráfico”, assinalou.
A suposta declaração de Ciro Gomes teria sido feita em um evento no dia 24 de março deste ano, no Fórum Brasil-Espanha, realizado na cidade de Barcelona. Em matéria publicada no site do jornal O Estado de S. Paulo, o pré-candidato à Presidência se disse preocupado com relação à mudança nas regras de financiamento de campanhas, especialmente com a alteração relativa às doações por empresas privadas. Segundo Ciro, o Brasil agora vai experimentar o financiamento público de campanhas, mas não terá os mecanismos para combater o caixa 2. “Nós optamos agora pelo financiamento individual de campanhas. Ok, vamos experimentar. Mas eu desconfio que serão as eleições mais fraudadas da história do país”, afirmou. “Vai ser muito facilitado por quem circula com grandes quantidades de dinheiro em espécie. Por exemplo, igrejas e narcotráfico.”
Ao comentar o tema, a deputada Dra. Silvana enfatizou a defesa das Igrejas Evangélicas diante da suposição de Ciro, que teria, conforme ressaltou a deputada, comparado congregações ao narcotráfico, em termos de financiamento de campanhas de políticos.
“Se é verdadeiro esse pronunciamento, como está nas redes sociais, posiciono-me que o dinheiro que vai para a casa do senhor é sagrado. É um dinheiro que não nos pertence. Nunca recebi um centavo ou tive um santinho pago por qualquer igreja. Meu povo não está no mesmo balaio de traficante”, afirmou.
Repúdio
A deputada adiantou que está elaborando nota de repúdio que entregará a Ciro Gomes, em face das declarações atribuídas a ele e divulgadas nas redes sociais. Dra. Silvana lembrou que nasceu em uma família evangélica e sua mãe trabalhou como empregada doméstica e prosperou por ser crente. “Se não for fake, que Ciro Gomes se retrate publicamente”, observou.
De acordo com a parlamentar, nas últimas eleições, ela obteve 42.409 votos sem ter um comitê. “O povo viu em mim a coragem de dizer o que eles pensam. Mas o dinheiro do dízimo é sagrado e nunca foi utilizado em minha campanha política. Espero que seja fake. Crimes virtuais são perversos. Sou açoitada todo dia nas redes sociais. Nem me importo mais”, frisou.
A deputada afirmou que a sua igreja repudia as supostas declarações de Ciro Gomes, porque, segundo ela, a congregação de que participa não patrocina partido político. “O presidente da Assembleia de Deus, José Bezerra de Oliveira, jamais pagou um santinho para nós, mas confia em nosso trabalho”, disse. Dra. Silvana considerou que o Brasil está atravessando um momento de intolerância.
Outro que falou sobre o assunto foi o deputado Roberto Mesquita (Pros). Ele afirmou torcer pela eleição de um presidente cearense. “O bairrismo nos contagia. Mas dá tristeza me afastar de Ciro Gomes. Ele só não foi eleito por tratar assuntos com arrogância e desdém. Ele está sendo perverso e falso. Não poderia fazer analogia entre evangélicos e traficantes”, comentou.
Fake
Em defesa do ex-ministro, o deputado Tin Gomes (PDT) disse que a deputada, antes de acusar, deveria verificar se o fato é verdadeiro. “Você acha que ele iria dar uma declaração dessa? Vão aparecer muitas declarações falsas nessa campanha eleitoral”, advertiu.
Já o deputado Ferreira Aragão (PDT) afirmou que Ciro Gomes jamais diria as coisas que atribuíram a ele. “Estão distorcendo suas palavras para descredibilizá-lo na corrida eleitoral”, defendeu.
Ferreira Aragão afirmou que a divulgação dessa gravação é no sentido de colocar os evangélicos contra Ciro Gomes e inviabilizar esses votos. “Ele não fez nenhuma comparação, e quem sabe ler nas entrelinhas entende. Ninguém aqui é burro”, observou.
O parlamentar considerou ainda a existência de bons cristãos e de falsos profetas. Ele ponderou que há pastores e líderes religiosos que se aproveitam da fé para adquirir poder e ganhar votos, e citou o exemplo de três pastores que estão presos em Bangu I, no Rio de Janeiro, por associação ao narcotráfico. “Ciro não generalizou e nem colocou todos os cristãos na mesma medida. Mas há aqueles que se aproveitam da bandeira da fé para ganhar dinheiro, assim como existe em qualquer outra categoria, e não apenas no meio religioso”, afirmou.
De acordo com o deputado, é preciso prestar atenção nesse período pré-eleitoral, e não se deixar contaminar por discursos tendenciosos. “Precisamos agir com sabedoria e justiça nesse momento”, assinalou.