A temática da Segurança Pública voltou a mobilizar a atenção dos deputados estaduais, ontem, no plenário da Assembleia Legislativa. O deputado Heitor Férrer (SD) apontou a falta de políticas públicas voltadas para a população mais pobre como a principal causa da violência. Segundo ele, os cearenses menos favorecidos são submetidos a condições degradantes, a começar pela falta de moradia digna.
“A economia do Ceará cresceu 1% acima do Nordeste. A empresa Latam chegará a 50 voos por dia, com o hub de Fortaleza. Só que esses avanços não capilarizam para a sociedade mais pobre, que tem o gosto de fel na boca. O Ceará, que cresce economicamente, tem 1,1 milhão de famílias no bolsa família, ou seja, metade da população, 4,5 milhões de habitantes está na linha de pobreza”, afirmou.
Para o parlamentar, os ganhos gerados pelo crescimento da economia do Estado só beneficiam os mais abastados. “Os benefícios só crescem para os mesmos. A concentração continua sendo mais perversa ainda. Quem tem mais terá mais e quem tem menos continuará com menos”, afirmou. Ele salientou que a renda média não chega hoje a um salário mínimo.
Em termos regionais, Heitor Férrer destacou que a renda do Ceará só ganha do Pauí, Maranhão e Alagoas. Segundo o deputado, os dados que estabelecem que o Ceará está com economia em crescimento não levam à aplicação de maiores recursos em políticas públicas, que possam melhorar a vida dos mais pobres.
“É uma tragédia. É por isso que temos de exigir dos governos políticas públicas que desmontem esse status quo. Não há como essas pessoas excluídas não descambarem para a violência. A vida sem moradia minimamente digna leva ao desespero, à desesperança e à droga, criando uma sociedade marginal”, pondera.
Heitor Férrer defendeu um estado mais protetor, mas, segundo ele, hoje há omissão dos poderes públicos.
Na ocasião, o deputado Roberto Mesquita (Pros) considerou que as famílias vivem em dois cômodos, com até 12 pessoas. “Elas não estão mas nem pensando em chamar polícia, em caso de necessidade. O traficante ajuda mais que o Estado e a Polícia. Como se falar em valores se a dignidade não existe. Essas condições deveriam ser alvo de estudo de sociólogos”, comentou.
Polêmica
O deputado Fernando Hugo (PP) lamentou que declaração dada durante a inauguração de Unidade Integrada de Segurança no bairro Messejana, no último sábado (14/04), tenha sido utilizada, segundo avalia, de forma “oportunista” por críticos do Governo do Estado. Durante o evento, o parlamentar declarou que se alguém conseguisse lhe provar que algum governo tenha investido mais em segurança do que o de Camilo, ele rasgaria o seu diploma de deputado e andaria “nu na praça” do bairro Messejana.
Segundo o deputado, a expressão popular “pornofônica e jocosa” foi oportunizada por algumas pessoas, que a associaram com casos de violência recentes ocorridos no Estado. “Desculpo-me aos que se sentiram feridos e ofendidos pelo que falei, mas aos que oportunizaram a minha fala, digo que ela foi eivada de verdades inabaláveis e irretocáveis”, salientou.
Para Fernando Hugo, nenhum governo fez tanto pela segurança pública do Ceará quanto o atual. Ele enfatizou que os números são incontestáveis. “São mais de nove mil agentes de segurança contratados, além de promoção de policiais e tantas outras benfeitorias. Não retiro uma vírgula do que falei, porque ela se assenta em verdades”, assinalou o parlamentar.
O deputado Lucílvio Girão (PP) reconheceu que o problema da insegurança no Estado é grave, mas que a culpa pela situação não é do governador Camilo Santana. “Que a situação não é das melhores, todos estão a par disso, mas a culpa é de governos antigos, que, nos últimos 20 anos, retiraram direitos adquiridos de servidores das polícias Militar e Civil”, avaliou o deputado.
Já o deputado Ely Aguiar (PSDC) ressaltou que considera inquestionável que o Governo do Estado tenha investido muito em segurança pública, mas que os resultados não surtiram efeito. “Os gastos estratosféricos não conseguiram reduzir os índices de violência”, pontuou.
Solidariedade
Já a deputada Fernanda Pessoa (PSDB) se solidarizou com a família da universitária Cecília Rachel Moura, assassinada na última quinta-feira (12). Segundo a parlamentar, a jovem tinha 23 anos e foi vítima de um latrocínio, no bairro Parque Manimbura. “Quantas Cecílias ainda precisam morrer para que o Governo tome providências para conter a violência no Estado?”, questionou.
Fernanda Pessoa salientou que a violência tem crescido a cada dia, vitimando muitas filhas e filhos. “Precisamos de políticas públicas concretas e eficientes no Ceará para conter esses crimes. Não podemos mais viver apavorados”, assinalou.