A liberação de bebidas alcoólicas em estádios no Ceará continua gerando polêmica e evidenciando o impasse entre os deputados na Assembleia Legislativa. Ontem, o deputado Fernando Hugo (PP) se posicionou contrário à comercialização. A matéria ainda não tem data para votação em plenário.
O projeto de lei em tramitação na Assembleia é de autoria do deputado Gony Arruda (PSD) e autoriza “o comércio e o consumo de bebida alcoólica com teor de álcool não superior a dez graus em estádios e arenas desportivas do Ceará”.
“A ingestão sequencial de álcool leva a embriaguez. No caso de insanos e irracionais, ao expressar a sua torcida por um time, pode levar a atos de violência nos estádios”, disse Fernando Hugo ao justificar sua posição contrária à comercialização e ao consumo de bebidas alcoólicas em praças esportivas cearenses.
Apesar do posicionamento, Fernando Hugo destacou ainda que a cerveja não é a única responsável pelos casos de violência nas arenas esportivas e entorno, mas, segundo ele, representa uma significativa contribuição ao “estimular” e “potencializar variações de comportamento dos torcedores”.
“Quero o melhor pela paz nos estádios e devemos analisar com sensibilidade a proposta que tramita nesta Casa, autorizando o comércio e consumo de bebida alcoólica nas praças esportivas, pois ela infringe o Estatuto do Torcedor, que é o documento mais importante para regular a vida futebolística no Brasil”, apontou o parlamentar.
O deputado ainda classificou como “equívoco” comparar a venda de bebidas em estádios com a de festas e shows. “A animosidade nestes eventos não é de confronto, de adversidade e até de inimizade como acontece nos estádios”, finalizou ele.
Para a deputada Mirian Sobreira (PDT), “querer dizer que o álcool no estádio não causa violência é de uma falta de sensibilidade e racionalidade enorme”.
Quem também manifestou preocupação com os efeitos que o consumo de álcool pode causar, especialmente em ambientes como praças esportivas, foi deputado Dr. Santana (PT). “O problema não é o álcool nos estádios, é o álcool de forma geral como um elemento que contribui para o aumento da violência em vários segmentos. Imagine diante de uma situação de nervos a flor da pele, como uma partida de futebol”, salientou ele.
Briga de torcidas
Gony Arruda, por sua vez, saiu em defesa do seu projeto e ressaltou que 90% das pessoas que frequentam estádios são favoráveis à liberação de bebidas alcoólicas nestes locais. “Todos nós sabemos dos efeitos do álcool, mas porque só o futebol é alvo desta proibição, enquanto em outros ambientes é aceitável?”, questionou.
Já o deputado Ely Aguiar (PSDC) destacou que muitos dos episódios de violência registrados no entorno do estádio Castelão não têm relação direta com o consumo de bebidas alcoólicas.
“Estes confrontos ocorrem porque determinados indivíduos ligados a torcidas organizadas marcam previamente encontros no entorno do estádio para se agredirem, independentemente da bebida”, ressaltou.
“Boas práticas”
A deputada Dra. Silvana (PMDB) considerou que o esporte deve estimular boas práticas e bons exemplos. “O esporte deve ser ensinado como um caminho de libertação das drogas, de desfrutar do espetáculo, e o álcool é a droga que mais mata”, pontuou.