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Segunda, 07 Novembro 2016 04:15

Resultado se repete nas urnas e indica eleitorado flutuante

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Candidato a prefeito de Fortaleza no último pleito, Capitão Wagner (PR) alcançou percentual de votos semelhante ao do petista Elmano, no segundo turno de 2012 Candidato a prefeito de Fortaleza no último pleito, Capitão Wagner (PR) alcançou percentual de votos semelhante ao do petista Elmano, no segundo turno de 2012
Quatro anos se passaram e, nas urnas da Capital, quase nada mudou. Vitorioso na votação do último domingo (30), Roberto Cláudio (PDT) foi reeleito em 2016 com a mesma porcentagem de votos que lhe levou ao comando da Prefeitura de Fortaleza em 2012. O que parece coincidência, contudo, na análise de cientistas políticos, diz muito sobre o comportamento do eleitor fortalezense e também sobre como, entre uma eleição e outra, os adversários derrotados, apesar das diferenças partidárias-ideológicas, apostaram em estratégias e discursos semelhantes para a eleição.   De acordo com dados do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), Roberto Cláudio, quando disputou o cargo de prefeito pela primeira vez, ainda pelo PSB, venceu Elmano de Freitas, do PT, por 53,02% dos votos válidos contra 46,98%. A diferença numérica foi de 74.172 sufrágios, já que o eleito teve 650.607 votos e o candidato derrotado recebeu o aval de 576.435 eleitores.   Neste ano, o prefeito, já no PDT, conquistou pouco mais de 28 mil votos a mais do que no pleito anterior. Terminou o segundo turno de 2016 com 678.847 sufrágios, enquanto o adversário, Capitão Wagner, do PR, foi votado por 588.451 eleitores - superando em pouco mais de 12 mil a votação de Elmano em 2012.   Eleitorado   Curiosamente, o resultado deste segundo turno foi o mesmo da primeira vez que a Capital teve uma disputa levada a uma segunda votação. Em 2000, quando Juraci Magalhães conquistou o cargo de prefeito na disputa contra Inácio Arruda, o percentual foi de 53,97% para o vencedor e 46,03% para o derrotado. Fortaleza ainda teve segunda etapa em uma disputa pelo executivo municipal outra vez: em 2004, Luizianne Lins venceu Moroni Torgan com 56,2% contra 43,8% dos votos válidos.   Ao analisar tal cenário, cientistas políticos afirmam que os resultados semelhantes não são coincidência. Os dados, segundo Osmar de Sá Ponte, professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), indicam a histórica força de oposição na cidade. Embora os grupos políticos mais evidentes sofram alterações a cada pleito - de uma eleição para outra, é comum observar novas alianças -, a conjuntura sempre aponta para uma oposição que se estrutura para a disputa eleitoral, de maneira que raramente um prefeito consegue se reeleger com facilidade.    O cientista político afirma que a distribuição das lideranças políticas em cada pleito tem gerado o mesmo resultado. "Fortaleza tem um potencial muito grande de oposição. Nenhum prefeito teve uma reeleição fácil. A característica da cidade é de eleições apertadas. E isso se deve à configuração das forças políticas locais", diz.   Forças concentradas   Isso porque, a cada disputa, os políticos costumam mudar de partido ou coligação, de maneira que as forças políticas se concentram em dois grupos majoritários, gerando disputas acirradas. Osmar de Sá Ponte exemplifica com a configuração dos grupos nos dois últimos pleitos. "Se não tivesse se formado uma aliança tão forte em torno do Capitão Wagner - e é uma aliança até mais forte que a do Roberto Cláudio -, provavelmente o resultado seria outro", declara.   Ele ressalta ainda que uma análise das duas últimas eleições na Capital revela que as forças políticas em torno dos candidatos Elmano de Freitas e Capitão Wagner - ambos disputaram com Roberto Cláudio - são quase as mesmas, mas a mudança de posição de Eunício interferiu e reequilibrou as duas forças políticas no cenário.    "Embora (a ex-prefeita) Luizianne não tenha declarado apoio a Wagner, o grupo político dela estava com ele. Quem estava do lado do Roberto Cláudio em 2012 eram os mesmos de hoje, com exceção do (senador) Eunício, que foi para a oposição. A única mudança foi essa, porque o Moroni e alguns setores do PT já apoiavam o Roberto Cláudio em 2012", diz.   Diante desse contexto, Osmar de Sá Ponte avalia que a reeleição de Roberto Cláudio é fruto dos resultados da gestão dele e não apenas das forças políticas que o apoiavam. "Ele começou de baixo, com 30%, mas foi crescendo permanentemente. Isso mostra estabilidade. Ao longo da campanha, em todos os segmentos sociais, ele estava bem consolidado, segundo as pesquisas", afirma, acrescentando que a aceitação da população acabou equilibrando a saída de Eunício Oliveira de sua base de apoio.   Avaliação   Embora pesquisas indicassem, de fato, uma boa avaliação do prefeito Roberto Cláudio, ele cresceu pouco. Teve apenas 24 mil votos a mais do que no segundo turno de 2012, e neste número há de se levar em consideração também o crescimento do eleitorado - eram 1,4 milhão de eleitores quatro anos atrás. Neste ano, 1,6 milhão estavam aptos a ir às urnas. Proporcionalmente, Roberto Cláudio conquistou apenas 0,5% a mais de eleitores do que no seu último pleito.   "Mas essa campanha foi atípica", indica Osmar de Sá Ponte. Para o cientista político, a eleição deste ano não representa apenas uma avaliação do desempenho do gestor, mas também dá pistas sobre a polarização política nacional. O professor ressalta, aliás, que a conjuntura nacional foi determinante para a formação dos blocos locais.   Apoios   "Na eleição de 2012, Roberto Cláudio teve a simpatia de segmentos do PSDB. Agora, ficou de fora qualquer possibilidade de apoio por conta do projeto nacional do PSDB. Embora esta seja uma eleição local, a disputa foi influenciada pelas forças nacionais. Inclusive, um dos motivos fundamentais para partidos não apoiarem Roberto Cláudio está relacionado a uma eventual candidatura do (ex-deputado federal) Ciro Gomes (apoiador do pedetista) à Presidência da República. Da mesma forma, alguns apoiaram porque têm simpatia", considera.   O professor da UFC ressalta, porém, que essa interferência não ocorreu por questões ideológicas dos eleitores. "Eles não decidiram o voto pensando nisso", assevera. No entanto, os blocos de aliados teriam sido consolidados no pleito municipal levando em conta o panorama nacional polarizado.   O cientista político Horácio Frota, professor do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (Uece), por sua vez, considera que a conjuntura nacional teve impacto no resultado apertado da eleição de 2016. "Acho que foi menos significativa a diferença do Roberto Cláudio por conta da situação nacional. Quando você olha nacionalmente, as eleições nas capitais e nas grandes cidades foram marcadas por derrota ou vitória muito apertada dos candidatos comprometidos com o governo federal que foi deposto", observa o pesquisador.   Discursos semelhantes   Ao avaliar o resultado praticamente igual nos dois últimos segundos turnos, o cientista político expõe também que, apesar de Roberto Cláudio ter disputado a eleição de 2012 contra uma chapa liderada por um partido de esquerda e, neste ano, ter tido como adversária uma coligação de direita, seus dois adversários tiveram discursos semelhantes na campanha ao aproximarem-se da periferia da cidade.   "Tenho conversado com muitas pessoas. As pessoas mais humildes, ligadas ao cotidiano da periferia, viam nele (Capitão Wagner) uma pessoa que fazia crítica à gestão e uma diferença estabelecida entre os bairros da cidade. Era oposição. O que, de certa forma, embora em outra coligação partidária, era o que o Elmano dizia. O Elmano fazia a discussão em defesa da gestão da Luizianne, mas com base no trabalho para a periferia, na necessidade de diminuir as diferenças", compara. "Talvez nesse sentido haja a grande aproximação desse eleitor da periferia que não vota necessariamente no partido. Na verdade, esse eleitor, insatisfeito por uma série de razões, votou muito mais como oposição", acrescenta.   Segundo Horácio Frota, então, o eleitor da periferia não fez identificação ideológica e acabou atraído pelo espaço de oposição ocupado pelo candidato do PR ao tomar para si um discurso "de combate ao velho, de falar que representa os interesses dos excluídos da sociedade". O professor da Uece, contudo, aponta contradições na estratégia de Capitão Wagner. "Ele ocupa um discurso de oposição, mas dizendo que combate a velha política. Ele passou para a periferia, embora numa análise mais apurada podia se ver que não tinha nada de combate à velha política. Ele estava apoiado pelas forças mais antigas, mais velhas da política do Estado, muito mais do que Roberto Cláudio", opina.   O prefeito, diz o cientista político, também consolidou votos, mas, segundo Horácio Frota, o acirramento é resultado de como o voto se estrutura em Fortaleza. Para ele, um terço do eleitorado é maleável e, sem posicionamento político definido, acaba transitando entre candidaturas, sendo, portanto, disputado no segundo turno. "Tem os votos que já são da esquerda e os votos mais conservadores, que aí podem mudar um pouco mais com ou com outro, agora tem um terço que fica na disputa, por isso que no segundo turno isso fica amais evidente", complementa o pesquisador.
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