Para a Associação Nacional dos Jornais, a ação buscou intimidar órgãos da imprensa, além de ameaçar a integridade física dos funcionários
FOTO: KIKO SILVA
Governador Cid Gomes e secretário de Segurança do Estado prestaram apoio ao Diário do Nordeste
A agressão cometida contra a sede do jornal Diário do Nordeste, na manhã de ontem, por grupo de sindicalistas da indústria gráfica e da construção civil, chamou atenção da sociedade e de diversas entidades e autoridades do Estado.
O governador Cid Gomes, em contato feito ao Sistema Verdes Mares, se mostrou impressionado com a truculência dos manifestantes em atacar o Jornal. "Fiquei indignado com o ato, foi uma imensa agressão. Nos prontificamos a tomar todas as providências", declarou.
O secretário de Segurança Pública do Estado, coronel Francisco Bezerra, procurou a direção do Diário do Nordeste, a pedido do próprio governador, para demonstrar apoio, afirmando, inclusive, já ter tomado as ações necessárias. "Já enviamos viaturas do Choque para resguardar o prédio do Diário e os trabalhadores. Na medida do que for necessário, aumentaremos, sim, a vigilância. A perícia já foi feita no local e vamos nos manter atentos", finalizou o secretário.
O vice-presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão, Francisco Mesquita Neto, declarou, por meio de nota enviada à imprensa, condenar a violência cometida contra o Diário do Nordeste e demais profissionais de imprensa cearenses, e espera que as autoridades policiais tomem providências para garantir a liberdade de expressão e a identificação dos atos criminosos registrados nos últimos dias.
"É difícil entender as razões que levam trabalhadores a apelarem para esse tipo de violência. Quando se busca intimidar órgãos de imprensa e veículos de comunicação, mais do que estar atingindo a integridade física de profissionais que estão no exercício de sua atividade, é atentar contra o próprio exercício da liberdade de imprensa, e, em última análise, prejudicar o direito das pessoas de serem livremente informadas", acrescentou o diretor executivo da ANJ, Ricardo Pedreira.
Sobre o ocorrido, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, Roberto Cláudio, ressaltou que, em todas as greves, há excessos, mas que o importante é que as partes estão interessadas em entrar em um acordo, fazendo com que a greve chegue ao fim. "A paralisação afeta diretamente toda a sociedade. É fundamental o respeito mútuo", acrescenta.
Desrespeito
A presidente do Sindicato dos Jornalistas no Ceará (Sindjorce), Samira de Castro, informou repudiar veemente o ato praticado. Segundo ela, foi pedido ao comando de greve que respeitasse a imprensa, já que são trabalhadores e que independem da linha editorial que a empresa adota. "Violência não se justifica de maneira alguma. Não adianta jogar trabalhador contra trabalhador", frisa.
Além de ganhar destaque na imprensa nacional, o ataque e a tentativa de invasão ao jornal também foram motivos de repercussão nas redes sociais durante todo o dia de ontem.
Diversos internautas demonstravam surpresa e perplexidade com a notícia e com imagens que eram divulgadas na internet no decorrer do dia. "Triste viu, como é que se defende essa manifestação?", "fiquei perplexa com as imagens", foram algumas das manifestações postadas nas redes Facebook e Twitter.
"Fiquei indignado, foi uma imensa agressão. Nos prontificamos a tomar todas as providências"Cid GomesGovernador
"Já enviamos viaturas do Choque para resguardar o prédio do Diário e os trabalhadores"Coronel Francisco BezerraSecretário de Segurança Pública do Ceará
"A paralisação afeta diretamente toda a sociedade. É fundamental o respeito mútuo"Roberto CláudioPresidente da Assembleia Legislativa
Negociação fracassa e greve continua
Após mais de seis horas, terminou sem acordo a negociação entre membros do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Fortaleza e Região Metropolitana (STICCRMF) e do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE) na Assembleia Legislativa. A consequência do entrave é que a greve da categoria continua.
Cláusula sobre o pagamento dos 22 dias parados foi o motivo para que o acordo não fosse fechado, durante reunião na Assembleia Legislativa
O conflito de opiniões sobre uma única cláusula no documento apresentado com a proposta foi a razão pela perpetuação do movimento. As partes não conseguiram entrar em consenso a respeito do pagamento dos 22 dias parados devido à mobilização. De um lado, os trabalhadores tentam receber pelos dias não trabalhados. Do outro, as empresas se negam a pagar as diárias.
Debate
Esta indecisão fez com que o resultado da reunião se resumisse a um novo texto de proposta sobre o assunto apresentado em conjunto por ambas as partes, porém com alterações dos trabalhadores. Esta redação será apresentada hoje às empresas para que deliberem se aceitam ou não a compensação de horas não trabalhadas.
Segundo Valdir Pereira, assessor político do STICCRMF, as pautas sociais e econômicas foram negociadas, porém o "Sinduscon parece não querer fechar acordo sobre os dias parados. O Sindicato da Indústria quer impor que os 22 dias parados sejam descontados dos trabalhadores. Agora, vamos esperar que eles apresentem o novo texto da proposta às empresas para que a gente volte a negociar, por enquanto estamos de greve".
Já o presidente do Sinduscon-CE, Roberto Sérgio, explica que a discussão sobre esta cláusula específica é bastante complexa, tendo em vista o tempo prolongado da mobilização e as consequências advindas com a mesma, como prejuízos financeiros das empresas, o qual gira em torno de R$ 5 milhões por dia. "É lamentável não termos entrado em acordo. Os trabalhadores querem que a compensação de horas aconteça individualmente e não de forma coletiva. Vamos consultar os empresários para decidir o que faremos".
Para o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Roberto Cláudio, durante o encontro, foi notável a boa vontade de ambas as partes para que um acordo fosse possível e a greve chegasse ao fim. "O Sindicato dos Trabalhadores nos procurou para esta intermediação. Infelizmente, não se entrou em consenso. Acredito que, por se tratar apenas de um ponto, logo se chegará a um acordo".
Hoje, o Sinduscon-CE realiza reunião para que os empresários conheçam a proposta de compensação dos dias parados. Em seguida, a decisão será repassada ao STICCRMF e assim novas ações sejam traçadas. Na segunda-feira, as partes decidiram, dentre outros assuntos, pelo reajuste geral de 8% e pelo auxílio alimentação de R$ 50,00.