Para o deputado Professor Pinheiro, a decisão do partido é de manter a aliança estadual e entregar ao governador a coordenação da campanha, inclusive com a escolha dos candidatos, após conversar com os aliados
FOTO: JOSÉ LEOMAR
As eleições de outubro próximo foi o principal assunto de ontem no plenário da Assembleia. Enquanto os petistas mandaram o recado de suas pretensões a uma vaga majoritária, alguns parlamentares da oposição lamentaram a provável saída do chefe do Poder Executivo, Cid Gomes, sem solucionar problemas da Segurança Pública e da seca.
O deputado Dedé Teixeira (PT), primeiro orador do dia, iniciou sua fala tratando do assunto e lembrou que no próximo sábado (29), em encontro realizado pela executiva estadual do PT, os membros da sigla vão reivindicar a vaga do Senado Federal, a mesma que Cid disse querer destinar ao irmão, Ciro Gomes. "Temos até o dia 4 de abril para detentores de cargos públicos renunciarem, é natural que ocorra uma série de articulações políticas no Ceará, até porque mesmo vamos ter ma eleição importante, em outubro próximo", disse o petista.
Segundo ele, desde as eleições diretas (no partido), em novembro passado, onde De Assis Diniz foi eleito presidente da legenda, a intenção é que o PT tenha aliança no Estado do Ceará com o governador Cid Gomes e com o PROS, além de uma intensificação do debate para que as vagas nos cargos majoritários seja, preferencialmente, a do Senado, destinada ao PT.
Teixeira informou ainda que em todos os estados os partidos têm discutido internamente, e o PT quer fortalecer a bancada de deputados federais e estaduais, além da do Senado. "Essa discussão faz parte. A movimentação política que ocorre é natural. Ela é da natureza pré-eleitoral em que estamos vivendo", afirmou o parlamentar, destacando que, a partir do dia 4 de abril algo mais concreto será destacado.
Coordene
A líder do PT, Rachel Marques, disse que o partido tem como principal meta a reeleição da presidente Dilma Rousseff, assim como a pretensão para se ter uma vaga na chapa majoritária, em especial, a do Senado. "Tudo isso será fruto das decisões dos nossos encontros democráticos, como de conversas com os nossos aliados. Essa maioria esteve com o governador Cid Gomes e expressou a intenção de estarmos juntos nessa disputa", disse.
O deputado Professor Pinheiro também disse ser favorável à aliança com Cid Gomes, que foi constituída desde 2006, mas como sua corrente já havia se posicionado, não diz que o PT quer, necessariamente a vaga de senador. Segundo ele, na reunião com o governador Cid Gomes, na última segunda-feira, os representantes de cerca de 80% das alas petistas, se disseram favorável à aliança que foi firmada com o governador.
Segundo o parlamentar, o PT, em sua maioria, está trabalhando no sentido da manutenção da aliança, além de defender que o governador coordene a campanha dos aliados aqui no Ceará, como foi sugerido em 2012 para com a ex-prefeita Luizianne Lins, no caso de Fortaleza.
"É claro que a escolha dos candidatos ao Governo, Senado e Vice-Governador é dele, mas ele deveria fazer uma discussão com a base. Nós estamos defendendo que numa discussão com a base, um dos candidatos ao Governo, Senado e Vice, pode ser do PT. Em nenhum momento fomos favoráveis à ruptura da aliança", enfatizou.
Impasse
Sobre o assunto, o deputado Ely Aguiar (PSDC), disse que a quantidade de obras no atual Governo do Estado demonstra que muito foi feito por Cid no Ceará, daí entender que provavelmente o governador permaneça no cargo até o fim de seu mandato.
Já o deputado João Jaime (DEM) lembrou que Cid Gomes chegou a solicitar mais seis meses para realizar aquilo que se propôs a fazer, e agora, faltando poucos dias da desincompatibilização, anuncia que deve deixar o cargo para tentar uma vaga ao Senado Federal para o irmão, Ciro Gomes.
Ele destacou que o Ceará enfrenta duas crises: uma na Segurança Pública e outra com a questão da seca e informou que, caso o governador do Estado deixe o cargo, estará abandonando a população cearense. A oposição tem interesse que Cid fique no Governo até o fim do mandato.
O líder do PROS na Assembleia, deputado Welington Landim, destacou os feitos de Cid Gomes na política e no Governo do Estado do Ceará ao longo dos seus dois mandatos. Segundo disse, o governador Cid Gomes deve ouvir sua base política, incluindo as lideranças dos partidos aliados, pois "não se pode ser uma coisa solta, não". Conforme informou, o chefe do Poder Executivo está procurando o melhor caminho para o impasse. "Essa gestão é qualificada em todos os sentidos, e aquele que vai substituir o Cid Gomes terá uma grande dificuldade", disse.
Relação familiar influencia o poder
A vontade do governador Cid Gomes em deixar o cargo para permitir que o irmão dele, Ciro Gomes, possa disputar o cargo de senador nas eleições deste ano revela, segundo especialistas, como a cultura política cearense é influenciada pelas relações familiares. Na avaliação de cientistas políticos, a manobra eleitoral reforça a tese histórica de como a falta de autonomia política da população abre espaço para que famílias se aproveitem do Executivo ou Legislativo para permanecer no poder.
A cientista política Carla Michele afirmou que essa cultura política é legitimada por uma sociedade que, historicamente, sempre confundiu o espaço público com o privado e ressaltou que, enquanto a legislação não for mais rígida para impedir esse tipo de estratégia eleitoral, grupos familiares continuarão se aproveitando das brechas para continuar sendo eleitos.
"As nossas relações públicas são muito relacionadas aos contatos pessoais. Quando a gente procura emprego, a gente pensa em quem, amigo ou família, pode nos indicar para alguma vaga. Na política, esse pensamento não é diferente. A legislação precisava ser rígida para que o indivíduo não procurasse usar a máquina dessa forma para continuar no poder", opinou.
Na opinião da cientista, a permanência dessa cultura ainda é resultado de uma sociedade que enxerga positivamente a preocupação de um político com a própria família. "A população tem uma tendência a acreditar que esses indivíduos são bons porque ajudam a família. Outra vez, vi um vereador do Interior pedir voto alegando que era uma boa pessoa por ajudar as pessoas próximas a ele", acrescentou.
Razões
A fragilidade dos partidos que formam a democracia brasileira é também, segundo o cientista político Uribam Xavier, uma das principais razões para a influência familiar na história política do Estado. Na sua avaliação, a vontade do governador Cid Gomes, por exemplo, mostrou que os interesses do PT na disputa pelo Senado foram relegados a um segundo plano, em prol de um projeto político familiar.
"No Ceará, a vida política partidária é muito frágil. Toda nossa história sempre girou em torno de personalidades. Em nenhum período da história cearense, a gente se refere a um tempo governado por partido ou outro. A gente sempre lembra das personalidades. Nesse caso, o governador expôs a fragilidade do PT. Para mim, Cid sinalizou que o PT não tem nenhuma vontade política", ressaltou.
O cientista político Clésio Arruda também acredita que essa cultura é consequência da formação de uma sociedade construída por famílias com capacidade de poder político que, segundo ele, passaram a adotar uma prática prejudicial à democracia.
"Essa prática impede o desenvolvimento mais amplo, porque a gente não tem nenhuma garantia que a competência se dê por herança genética. O filho de um médico não será necessariamente será um bom médico. Com a classe política, isso não é diferente. Quando a gente prioriza a família como projeto político, nós impedimos que outras pessoas participem do processo" frisou o especialista.
Para ele, a manobra eleitoral de Cid Gomes ainda é resquício dessa cultura política, mas apontou que a realidade retratada é encontrada também no restante do País, como o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, que conseguiu se aproveitar de sua base para eleger a esposa como sucessora.
"Ou seja, essa é uma prática que perpassa pelas grandes cidades. A classe política se apropria da coisa pública. Tanto no Executivo quanto no Legislativo, nós percebemos que os cargos públicos são vistos como propriedades privadas. É aí que surgem a prática do nepotismo ou da transmissão de cargos de pai para filho. O pai deixa para os filhos seus votos e, assim, nós temos um curral eleitoral moderno", pontuou.