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Coletiva na ESP defende médicos - QR Code Friendly
Quarta, 28 Agosto 2013 07:32

Coletiva na ESP defende médicos

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  NATALÍCIO BARROSODa Redação Reunidos, na Escola de Saúde Pública do Ceará, na noite de segunda-feira, para recepcionar os médicos que chegavam do exterior para participar do Programa Mais Médicos, os profissionais da área que ali estavam foram surpreendidos por, pelo menos, 40 colegas brasileiros que, liderados pelo Sindicato dos Médicos do Ceará, agrediram, grosseiramente, os seus colegas de outros países. Chamando os médicos cubanos de “incompetentes” e classificando todos eles na categoria de “escravos” que deveriam voltar para as senzalas, os médicos brasileiros, segundo os organizadores do evento, tumultuaram a solenidade a tal ponto que a segurança do prédio teve que proteger os que ali estavam enquanto a polícia chegava. Para contrapor-se a esse gesto que foi considerado de ”profunda deselegância”, a Secretaria de Saúde do Ceará e o Ministério da Saúde, representado por Odorico Monteiro, promoveram uma reunião de desagravo ontem, a partir das 10h30min na Escola de Saúde Pública. Nota Durante a reunião foi apresentado um documento intitulado Nota de Desagravo aos Médicos Estrangeiros. O texto foi lido pelo médico sanitarista Manuel da Fonseca, que emocionou o público. Principalmente quando, comovido, parou de ler, por um instante, e foi aplaudido de pé. Terminada a leitura da nota, assinada pela Associação 64/68, Comissão de Anistia Wanda Sidou, Associação dos Juízes Para a Democracia, Comitê Ceará Memória Verdade e Justiça e Associação Amizade Brasil/Cuba, o público presente, que lotava o auditório, tomou conhecimento do seguinte: Cuba não tem riqueza, afirmava a nota. “A sua riqueza é seu povo. São seus médicos. A sua solidariedade.” “Incompetente?” perguntava ela para, em seguida, mostrar para os manifestantes da noite de segunda-feira, que estavam enganados quando diziam isso. Para os que assinaram o documento, os indicadores de saúde de Cuba se assemelham com os dos países mais desenvolvidos. A mortalidade infantil, segundo a nota, é muito menor em Cuba do que nos Estados Unidos e há 30 anos que o governo cubano desenvolve um programa denominado Saúde de Família, que é referência em todo o mundo. Para terminar, Manoel José da Fonseca citou um pequeno poema de José Marti no qual o poeta cubano do século XIX afirma que “cultiva uma rosa branca e não cardos e urtigas para seus amigos”. Hipócrates ou Hipocrisia Passando a palavra para Mário Albuquerque, presidente da Comissão de Anistia Wanda Sidou, ele lembrou o tempo em que foi preso político com muitos outros companheiros. Nesse período, segundo Mário, muitos integrantes do Partido Comunista também foram exilados e, como muitos cubanos que ali estavam, souberam valorizar algo que aqueles que se manifestaram no dia anterior, não conheciam: a solidariedade internacional. O Juiz do Trabalho aposentado e representante do Comitê Verdade e Justiça do Ceará, Sílvio Mota, fez um trocadilho com o juramento de Hipócrates, feito pelos médicos, quando se formam. Para ele, o que o Sindicato dos Médicos fez, na noite de segunda-feira, foi transformar o juramento de Hipócrates em hipocrisia. Deputado estadual Antônio Carlos, do PT, começa seu discurso em espanhol, para melhor prestigiar os cubanos, enquanto Veveu Arruda, prefeito de Sobral, discorreu sobre a situação da saúde na América do Sul. Segundo ele, o Brasil dispõe de 1,7 médicos para cada mil habitantes. No Ceará, a proporção é bem menor. Apenas um médico para cada habitante. No Uruguai, segundo ele, são 3,8 médicos e, na Argentina, 3,2. A situação, portanto, é muito precária. Sobral, por exemplo, precisa, no momento de pelo menos 20 médicos e, para mostrar que estaria disposto a receber aqueles que se dispusessem a ir para lá, fez um desafio: Se estivesse na Escola de Saúde Pública do Ceará, na noite de segunda-feira, indagaria aos 40 profissionais da saúde que ali estiveram protestando se estariam dispostos a trabalhar em Sobral. “Duvido que quisessem.”, conclui o discurso. O secretário de Saúde do Ceará em seguida, Arruda Bastos, que presidia a mesa, disse que a solenidade teve fim depois que alguns cubanos disseram de público que estavam aqui, no Brasil, para somar e não para dividir. Depois todos se levantaram e, acompanhando a voz de uma cubana que desafinava um pouco, é verdade, cantaram “Guantanamera”, música de Josito Fernandez, com letra de José Martí. SINDICATO DOS MÉDICOS DEFENDE MANISFESTAÇÃO José Maria Pontes, presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, afirma, no entanto, que a manifestação de segunda-feira não foi contra os médicos cubanos. Quando os manifestantes gritavam a palavra “escravo” não estavam se referindo ao tempo em que os países colonizados como o Brasil, inclusive, adotavam esta prática, mas a forma como estavam sendo contratados. Para José Maria Pontes, os cubanos que aqui estão, no Brasil, não vão receber o salário integral. Boa parte do salário deles vai para o governo de Cuba. Também não terão direito a se casar aqui, no Brasil, sair da região onde se encontram ou receber o 13º salário. ”Trabalhar assim, portanto, sem ter a proteção das leis trabalhistas vigentes no País onde se encontram, é ser tratado como escravo e não como profissional. A manifestação, nesse caso, não era contra eles. Mas a favor deles.” – enfatiza o médico sindicalista. Os manifestantes, naturalmente, também defendem o Revalida. Como ele não vai ser aplicado nos profissionais contratados através do programa do governo brasileiro “Mais Médicos”, é natural que chamassem a atenção para a possibilidade de incompetência de qualquer médico de qualquer país que venha para o Brasil trabalhar neste programa. “O alvo da manifestação, no entanto, eram os gestores e não os profissionais da área da saúde. Tanto assim que quando saíram da Escola de Saúde Pública, os manifestantes seguiram o Odorico que é, no Ceará, o representante do Ministério da Saúde e não os médicos cubanos. O que acontece, segundo ele, é que a mídia, normalmente, divulga aquilo que o governo quer e não aquilo que, de fato, aconteceu. Assim, transformaram palavras de protesto político em prol da saúde, em termos preconceituosos. Quando isso não existiu.” – finaliza José Maria Pontes.
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