Carlomano Marques, na tribuna da Assembleia Legislativa, ontem, se disse inocente das acusações da compra de votos
FOTO: MARÍLIA CAMELO
Carlomano Marques pode recorrer da cassação do seu mandato ao próprio TRE e até mesmo ao TSE
O deputado Carlomano Marques (PMDB) ocupou a tribuna da Assembleia Legislativa, ontem, por mais de uma hora, para tratar da decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), na segunda-feira à noite, cassando o seu mandato por captação ilícita de sufrágio, nas eleições estaduais de 2010, conforme denúncia feita pelo Ministério Público.
O deputado garantiu ser inocente, alegando não existir nenhuma prova material atestando que ele fez consultas médicas e deu remédio ou atestado médico em troca de votos. "Sou inocente. Não pratiquei captação ilícita de voto, não dei atestado, não dei remédio, não pedi voto, não ofereci nada, como vou aceitar essa culpa?", questionou.
O TRE também condenou a vereadora Magaly Marques (PMDB), a pagar uma multa e ficar inelegível por um período de oito anos, acusada de dar consultas e remédios em troca de votos para o deputado Carlomano. As consultas, conforme a denúncia, ocorriam dentro do comitê eleitoral do parlamentar.
O deputado também negou que a vereadora tenha praticado os tais crimes. Segundo disse, Magaly é sua irmã e nas eleições estaduais faz campanha para ele, em Fortaleza e nas disputas municipais é ele quem pede votos para a vereadora.
Orientado
Na época, em 2010, o fato foi noticiado pelo jornal O Povo, a quem o deputado fez várias críticas ao longo do seu pronunciamento, acusando o jornalista responsável pela matéria por ter se "camuflado" de paciente e filmado a consulta, alegando que isso só se faz quando está sendo ameaçado.
Segundo o parlamentar, o jornalista nunca o viu e chegou afirmar em depoimento que ele, Carlomano Marques, não estava no local na hora da suposta consulta. De acordo com o deputado, ele encontrava-se em Aracati. "Quem devia estar sendo condenado era o repórter, ele é quem cometeu a fraude. Não fui eu, não estava nem em Fortaleza", ressaltou.
O peemedebista fez questão de frisar que está no seu sétimo mandato como parlamentar e sua irmã no sexto mandato, questionando se é possível que em todas eleições ganhas foi por conta de compra de votos, através de doação de atestados médicos ou consultas.
Além disso, Carlomano Marques esclarece que foi eleito apenas com três mil votos de diferença do último candidato a garantir uma vaga na Casa, na eleição de 2010. "Era preciso pelo menos 100 atestados e que, cada um, fartamente possuído de uma generosidade, fizesse campanha e me desse 30 votos para mudar o destino da eleição daquele ano", atestou.
Cidadania
O deputado disse ter sido orientado por alguns amigos a não tratar do assunto na tribuna da Assembleia, mas afirmou que não abriria mão de defender o seu mandato, entendendo que, ao fazer isso, defendia também o Parlamento e a sociedade. "Estou aqui cumprindo um dever de cidadania. A medida em que defendo meu direito, estou defendendo o direito da sociedade", ponderou, assegurando que pega "em arma se for preciso" para manter o seu mandato.
"Estou sendo condenado porque alguns julgadores acharam que ´não a irmã dele pediu voto porque ele mandou´. Isso é presunção. Não se pode condenar ninguém por presunção", defendeu o peemedebista, entendendo que quem tem de provar que ele é culpado é o jornalista responsável pela matéria.
Em entrevista à imprensa após deixar a tribuna, Carlomano reafirmou a defesa de que foi vítima de uma "emboscada" por parte do repórter que se passou de paciente. "Não se pode gravar uma conversa para acusar ninguém. Só se a pessoa estiver sendo ameaçada", reforçou. Indagado se é comum, em época de eleição, médicos pedirem o título de eleitor dos pacientes, o deputado disse desconhecer tal prática. O parlamentar declarou ainda que os advogados vão recorrer da sentença e que a estratégia utilizada será "apenas a verdade".
Carlomano ganhou a solidariedade de alguns dos parlamentares que assistiam a sessão. O deputado Ely Aguiar (PSDC) disse estar torcendo para que o peemedebista prove sua inocência, entendendo que isso seria bom não só para ele, mas também para o Parlamento, lembrando que a decisão do TRE foi tomada por um colegiado.
Jornalista
Ely Aguiar disse ainda que ser jornalista no Brasil é bastante difícil e é preciso ter coragem para exercer a profissão. "É necessário que se tenha coragem de denunciar, com provas concretas, no sentido que afastemos da política brasileira os maus políticos, os que compram votos, os que trocam votos por uma caixa de remédio, por tijolos, por cimento. Esse tipo de gente deve ser banido da nossa política", defendeu.
Para o deputado Roberto Mesquita (PV), não existe nenhum fato que ligue Carlomano Marques à denúncia de compra de votos, entendendo tratar-se de uma injustiça. Para o deputado Leonardo Pinheiro (PSD), não está claramente definido pela Justiça Eleitoral, até que ponto um candidato que é médico, pode atender seus pacientes sem que isso signifique captação ilícita de votos.
A deputada Inês Arruda (PMDB) também apoiou o colega de partido, afirmando que, ontem, o Parlamento estava entristecido com a notícia. "Mas tenho certeza que vossa excelência vai conseguir provar sua inocência. O Parlamento precisa da sua palavra, do seu brilhantismo", pontuou.