A audiência pública foi requerida pelo deputado Renato Roseno (Psol), que ressaltou que importantes conquistas são constantemente ameaçadas pelo discurso conservador. Segundo ele, o racismo é uma herança que se atualiza e se manifesta em expressões renovadas de discriminação. O parlamentar denunciou, ainda, a baixa representatividade das mulheres negras nas Casas Legislativas brasileiras e afirmou que é preciso combater o mito de que não existem negros no Ceará.
A representante da Articulação de Organização de Mulheres Negras Brasileira, Vera Baroni, disse que o racismo deteriora a vida e limita os direitos dos negros, especialmente das mulheres. Ela ressaltou que é fundamental fortalecer a identidade e a expressão ancestral religiosa de matriz africana, que é demonizada pelo discurso conservador. Por isso, Vera Baroni afirmou que a liberdade de culto também é uma das reivindicações da Marcha, além de denunciar o genocídio dos jovens negros e rechaçar a subalternidade das mulheres negras.
Representante da Coordenação Colegiada da Articulação de Mulheres Brasileiras, Cris Faustino enfatizou que a sociedade brasileira foi criada com base na violência, a exemplo do genocídio dos índios e escravização dos negros. Isso explicaria, segundo ela, porque na atualidade essa herança ainda se apresenta. Cris Faustino declarou que as elites brancas terão que entender que o poder e a riqueza devem ser compartilhados. Ela disse acreditar que as negras politizadas representam uma revolução no pensamento atual.
Para a representante do movimento Mulheres de Axé, Kelma Nunes Otaviano, “a sociedade está tão apartada que, muitas vezes, esquecemos quem são os nossos pares”. Para ela, dizer que não existem negros no Ceará é negar uma cultura e uma tradição ancestral.
A titular da Coordenadoria de Política da Igualdade Racial do Governo do Estado do Ceará, Zelma Madeira, destacou o que está enraizado na sociedade brasileira, o que ela chamou de racismo cordial e sexismo romântico, além da erotização exacerbada da mulher negra. Ela apontou o racismo somado à desigualdade de gênero como responsáveis pelos altos índices de analfabetismo e evasão escolar das meninas negras. Para ela, uma das formas de fortalecer as mulheres negras é valorizar a identidade destacando a ancestralidade da cultura africana.
Também estiveram presentes à audiência pública as representantes do Grupo de Valorização de Negras do Crato, Maria Eliana de Lima e Verônica Neuma Neves Carvalho; do Instituto Negras do Ceará, Meyre Coelho; e do Movimento Quilombola, Aurila Maria de Sousa Sales.
JM/JU