O plano do PSB nacional de cassar o mandato do deputado federal Eudes Xavier (PT-CE) por denúncias de espionagem contra o governo Cid Gomes (PSB) foi derrotado, ontem, na Comissão de Ética da Câmara. Os 13 parlamentares que compareceram à reunião do grupo votaram pelo arquivamento do processo, ao entender que o petista não cometeu indisciplina ao levar as acusações à tribuna da Casa. O assunto ainda é investigado pela Polícia Federal. Em abril deste ano, Eudes anunciou ter recebido emails grampeados que, segundo ele, apontariam supostas práticas de espionagem no Governo do Estado contra o ex-prefeito de Maracanaú Roberto Pessoa (PR), adversário político do grupo que administra o Ceará. Pressionado a revelar a fonte da informação, o deputado disse não saber quem enviou ao seu gabinete as cópias dos emails. As acusações tiraram o governo do sério e levaram o PSB nacional a entrar com processo disciplinar contra o deputado petista. No processo, o partido alegou que as declarações de Eudes na tribuna da Câmara não são pertinentes à atividade parlamentar e que não passam de “inverdades e ofensas políticas e morais, (...) arrimadas em fonte documental falsa”. Para o PSB, o deputado deveria ter checado a veracidade dos emails antes de levar o caso à tribuna. Os argumentos não convenceram a Comissão de Ética. “Se primeiro investigasse, para depois ir à tribuna, (o deputado) certamente levaria à perda de oportunidade esse objeto: pedir investigações”, afirmou o relator do processo, deputado federal José Carlos Araújo (PSD-BA), no parecer pelo arquivamento. Avaliação O vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, foi pego de surpresa pela notícia, na noite de ontem, quando procurado pelo O POVO. Ele reforçou que “o parlamentar é responsável por aquilo que diz, mesmo que tenha liberdade de se manifestar na tribuna”. Acrescentou que ainda hoje deve se reunir com advogados do partido para averiguar se há recurso contra a decisão da comissão. Nem Amaral nem a assessoria do governo souberam informar sobre o andamento das investigações na Polícia Federal. O líder do Executivo na Assembleia Legislativa, Sarto Nogueira, disse que o órgão está bem perto de identificar a origem da invasão da conta de email de Cid. Devido ao horário de atendimento do órgão, O POVO não conseguiu contatar a Polícia Federal. Saiba mais As denúncias de Eudes foram feitas no último dia 4 de abril. Nos supostos emails, cuja autenticidade é investigada pela Polícia Federal, Cid Gomes articularia com o irmão, Ciro Gomes, e com os secretários da Casa Civil, Arialdo Pinho, e o secretário da Segurança Pública, Francisco Bezerra, a contratação da empresa Kroll para espionar Roberto Pessoa. O governador negou veementemente as acusações. Em uma de suas declarações sobre o caso, foi enfático: “Se eu sou capaz de contratar empresa de espionagem para espionar quem quer que seja, me prendam”. Ainda em abril, Cid protocolou pedido no Ministério da Justiça para que a Polícia Federal apurasse o caso. Ele também chegou a reconhecer trechos dos emails que vazaram, mas disse que as mensagens foram manipuladas, com inclusão de outros trechos e truncagem. A Kroll Inteligência nega ter firmado qualquer contrato com Cid ou com interlocutores do governo.