Odeputado do PT, Elmano de Freitas, que também é presidente do partido em Fortaleza, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado, lembrou sobre as eleições de 2012, que apesar de não ter sido eleito, lhe rendeu capital político para um mandato de deputado estadual, e boas expectativas para disputar as eleições de 2016. Elmano conversou sobre a atuação do governador petista, Camilo Santana, sobre a crise nacional do PT, que pode respingar em Fortaleza, nas eleições em 2016. O parlamentar analisou ainda a gestão do prefeito Roberto Cláudio, em que é oposição. Dentre outras avaliações, defendeu uma postura mais dura do partido de qual faz parte, quanto aos correligionários que se envolverem em corrupção. Toda a entrevista pode ser visualizada no site da TV O Estado, onde ele trata, ainda, sobre as perspectivas de seu mandado. Até 2012, o senhor era conhecido apenas dentro dos movimentos sociais do PT, após a eleição, em que teve apoio da ex-prefeita Luizianne Lins, o senhor foi eleito deputado Estadual e é cotado internamente dentro partido para encabeçar o próximo pleito. Qual a sua avaliação de todo esse processo? Elmano de Freitas A campanha de 2012, eu vou guardar na memória para o resto da vida, pelo carinho do povo, da militância do PT, dos demais partidos que me apoiaram, da vinda do presidente Lula, por todos aqueles que confiaram na gente, e nos deram voto de confiança para nos colocar na Prefeitura de Fortaleza. A nossa candidatura que tem a ver com a trajetória política que eu carrego, de vinculação aos movimentos sociais do Estado. Advoguei para o Sindicato dos Trabalhadores, movimentos sociais, para setores que faziam trabalhos comunitários para a Igreja e a minha eleição para deputado, foi muito imbuída da ideia de defender os setores sociais. A Assembleia Legislativa, desde que fui assessor do ex-deputado João Alfredo para hoje, mudou muito com relação à estrutura, as condições de trabalho, a obtenção dos veículos de comunicação de rádio e TV. Penso que a atual legislatura é composta de deputados preparados, que têm preocupação com o povo do Ceará, e eu penso de poder colaborar com essas discussões. A Casa ela tem limitações, mas acho que nós estamos fazendo uma mudança, porque havia uma tradição, por exemplo, de que a oposição não aprovada emenda nenhuma, não podia fazer uma sugestão, ainda que fosse boa, ela seria recusada em função de ser da oposição. Nessa legislatura, eu mesmo fiz uma emenda para garantir reajuste dos agentes comunitários de saúde, o governador mandou uma lei para garantir o piso, mas a matéria que ele tinha enviado, não tinha o reajuste do piso, eu fiz uma emenda, a Assembleia se dividiu, e ganhamos a votação. O governador fez uma nova mensagem garantindo que os agentes tenham piso e o reajuste salarial. Então é uma situação nova, de debates, de oxigenação do parlamento. Camilo tem aberto o diálogo com todos os parlamentares, inclusive de oposição, como o PT articula para sempre aprimorar essa relação Parlamento e Governo? Elmano de Freitas O governador Camilo apresentou, durante esses seis meses, proposições fundamentais, que, na minha opinião, é pela longa formação dele no PT, como também no PSB, onde ele passou. A primeira grande diferença dele, como líder político, foi dizer que queria sentar com os policiais militares e ouvir as sugestões e opiniões que estava os afligindo. E ele ouviu, fez um projeto de lei que foi aprovado e criou a Lei de Promoções, que todo policial sabe que ele trabalhando, se dedicando, tendo uma boa conduta, ele ao final vai ser promovido e vai estar em um patamar diferente de que iniciou. É um dos poucos governadores do Brasil que, hoje, colocou para funcionar a lei do piso dos professores e não é mera coincidência. No Brasil inteiro, apenas cinco governadores garantiram a lei, a maioria deles é do Partido dos Trabalhadores. Na mesma maneira, ele mostra preocupação com seca. Depois de quatro anos, com situação grave, menos de 20% dos reservatórios, açudes, barragens, ele procurou a presidente Dilma Rousseff e dos R$ 150 milhões que será destinado para o Nordeste, o Ceará vai ficar com R$ 75 milhões, graças ao esforço do governador, e das forças políticas do Estado. Vejo que nesse tema, temos maturidade para apontar que não é coisa de situação ou oposição, como é o HUB da TAM, que é um grande investimento que a empresa pode fazer no aeroporto Pinto Martins, que pode gerar 10 mil empregos para os jovens da Capital. Vamos ter, talvez, ao final dessa instalação, 35 milhões de passageiros passando pelo aeroporto por ano. E isso envolveu os governadores, os senadores José Pimentel, Eunício, Tasso, além de toda a Assembleia Legislativa e a bancada federal. Então, um governador que prioriza seca, segurança pública e tem buscado, agora, recursos para melhorar a saúde pública, eu penso que é um governador que tem sensibilidade para com o povo do Ceará e demonstração de muito diálogo. Como o PT está trabalhando para que a crise nacional não respingue nas eleições de 2016? Elmano de Freitas Primeiro acho que há uma crise na política em geral. Em regra, o povo brasileiro e no Ceará tem muita pouca crença na política e em políticos. O PT que se destacava um pouco, também está profundamente afetado por essa descrença e na medida em que o PT é afetado, afeta os demais políticos. Acho que podemos ter aumento de votação em branco, de abstenção, o que eu não considero bom. A minha opinião é que o PT tem muito orgulho do que fez para os pobres do Brasil, no Ceará, de ter fortalecido a Polícia Federal, Controladoria, reforçado estrutura do Ministério Público, criado varas federais da Justiça Federal, que é quem está atuando efetivamente para combater a corrupção. De cinco Institutos Federais no Ceará, no governo do PT passou para 30 no Ceará. Há décadas não se fazia uma universidade federal no Estado, o PT abriu mais universidades, a Unilab e a Federal do Cariri e, provavelmente vai instalar uma nova em Crateús. Nós estamos em processo de avanço, agora o PT tem que reconhecer que cometeu erros, e um dos erros é a forma de se relacionar com o sistema político. Nós mudamos a educação, saúde, situações de combate à corrupção, mas não mudamos o sistema político. A forma do sistema político de se eleger, de funcionar, ainda é o povo participando pouco. O seu nome e o de Luizianne Lins são os mais cotados para o pleito de 2016. O senhor toparia outra disputa? EF Eu aceito a incumbência de como presidente do PT de Fortaleza, construir um processo que unifique o PT. Eu tenho uma crítica, que muitos companheiros colocam a sua vontade pessoal acima do projeto político do partido. Eu acho que não tem mais sentido alguns se apontarem como melhor nome, o melhor nome quem vai discutir é a nossa militância, que o povo e Fortaleza aceitar, que tem compromisso com a proposta que foi coletivamente construída. Eu aceito a incumbência de buscar para o meu partido o espírito coletivo. Quem tem projeto pessoal, nós respeitamos, mas tem que estar submetido ao projeto coletivo e no momento adequado, em 2016, temos que garantir unidade partidária e um conjunto de propostas com sinceridade e fraqueza e com condições de cumprir para apresentar o povo de Fortaleza. Feito isso, vamos ver quais os nomes que nós temos. Aí, vamos sentar e decidir qual o melhor nome. Esse é o projeto que eu acredito que seja melhor para o PT. O PT realizou recentemente uma discussão interna. Segundo alguns petistas, isso contribuirá para o partido se reorganizar diante da crise política e econômica, concorda. É verdade? Elmano de Freitas Eu penso que, infelizmente, o PT perdeu uma grande oportunidade no seu congresso de avaliar e discutir algumas questões. O PT tem que discutir com seriedade e profundidade a atuação de companheiros nossos que se envolveram em atos de corrupção. Se petistas quiserem sobreviver da política, eles vão ter que ser muito claros para a sociedade como foi ao seu diretório nacional em dizer que quem se envolver com corrupção será expulso. Isso é o mínimo, para alguém que está atuando no Partido dos Trabalhadores. Até porque, aqueles que querem entrar na política para fazer negócios têm que entender, claramente, que o lugar dele não é o PT. E se alguém estiver pensando nisso, que saia, porque nós não criamos o PT para isso. Eu sempre destaco que o PT, em Fortaleza, tem 25 mil filiados, desse total, 10 mil atuam no PT. Não tem ninguém envolvido com coisas erradas, e tenho a certeza absoluta que pessoas como eu, que vêem alguém envolvido com coisa errada, têm vergonha, então, o partido da mesma maneira tem que atualizar o seu programa, atualizar nesse sentido. As manifestações de junho de 2013 foram fundamentalmente para dizer que querem uma educação melhor, querem o combate à corrupção. Nesse momento, tem uma crise econômica no mundo, que atinge o Brasil. Essa crise não atingiu tanto o governo Lula, que permitiu um crescimento econômico muito importante, mas pegou com muito mais força o governo da presidente Dilma. Em minha opinião, ela aprovou um ajuste fiscal que gera confusão, porque quando ela mexe de qualquer maneira no seguro desemprego, no abono salarial, e exigiu que a bancada do PT na Câmara e no Senado alterasse uma medida provisória que o próprio Governo criou, gera confusão. Acho que ela fez certo, porque o PT tem que defender o direito dos trabalhadores. E dessa maneira, o PT tem que se adequar na conjuntura para que nem tudo o que o Governo fizer vai apoiar, como faço no governo Camilo, que apoio, mas tenho compromisso de vida, de defender a priore, o povo trabalhador.