Renato Roseno acrescentou que os números demonstram que a crise de desabastecimento não acontece por conta do consumo humano. Conforme explicou, no Ceará, a população consome, em média, 120 litros por dia, 10 litros a mais do mínimo recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU). “Apenas 17% de nossa água é destinada ao consumo humano, enquanto a agricultura irrigada consome mais de 70%. Somente o açude Banabuíú está com vazão de sete mil litros por segundo destinados aos grandes empreendimentos agropecuários”, pontuou.
O deputado frisou que, no passado, água não era mercadoria, mas nos últimos 30 anos o sistema neoliberal, em nome de um crescimento econômico, reverteu essa lógica, e agora apenas os grandes empreendimentos têm agricultura irrigada. “O pequeno agricultor não se beneficia desse modelo econômico”, destacou.
Renato Roseno avaliou ainda que a fruticultura irrigada voltada para a exportação é concentradora de riquezas e utiliza técnicas arcaicas, com irrigação por inundação. “Isso é criminoso. Utiliza-se perdulariamente o insumo natural que é a água”, acrescentou.
Renato Roseno assinalou também que o atual modelo é insustentável. O parlamentar observou que a termelétrica e outros empreendimentos do Pecém vão utilizar água igual a todo consumo humano de Fortaleza. “Quem tem recebido a outorga da água tem sido o grande poder econômico, que não gera desenvolvimento social, mas só crescimento econômico”, pontuou.
Roseno observou ainda que há perda da água armazenada e total descaso com os esgotos que contaminam os veios naturais. “Há também pulverização aérea de agrotóxicos, contaminando os mananciais de água”, acrescentou.
De acordo com o parlamentar, a lei nacional de recursos hídricos determina que o consumo humano é prioritário e, em seguida, pela ordem, devem ser priorizados os animais, a agricultura e a indústria. Porém, o que é determinado em legislação não vem sendo cumprido.
“As intenções políticas foram feitas unicamente para concentrar riqueza. A termelétrica recebeu 50% de desconto da tarifa da água. Mil litros de água por segundo consumidos por esse empreendimento representa 6% de todo o consumo de água da população”.
Roseno assinalou que quer tratar da questão do abastecimento d’água sob a perspectiva de colocar o consumo humano como prioridade. É necessário, segundo ele, que cada parlamentar diga de que lado está. Ou do lado dos grandes empreendimentos e do agronegócio ou da população. “O nosso lado é o do pequeno produtor e do consumo humano”, acentuou.
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