O deputado Artur Bruno não se elegeu e obteve votação pouco expressiva na Capital, ao contrário do que ocorreu em eleições anteriores
FOTO: JL ROSA
Sigla com capilaridade na capital cearense e histórico político de oposição à esquerda, o Partido dos Trabalhadores (PT) enfrentou, nestas eleições, resistência do eleitorado de Fortaleza. Apesar da eleição de Luizianne Lins para a Câmara Federal e de Elmano de Freitas para a Assembleia Legislativa, petistas admitem frustração com a votação da legenda na cidade. Quadros como Artur Bruno, que por duas vezes foi o deputado mais votado em Fortaleza, amargaram derrota no pleito deste ano.
Cientistas políticos apontam o envolvimento do PT em escândalos de corrupção, a guinada para a base governista e a atração de um novo perfil de eleitorado como fatores que tornaram a legenda menos atrativa nos grandes centros urbanos. Para petistas, o partido deve refletir sobre o desempenho na Capital.
"Estamos avaliando as razões da votação menos expressiva nessas eleições em Fortaleza. Como partido que participa do Governo Federal há 12 anos e estadual há 8 anos e administrou a Capital por dois mandatos, é possível que sua imagem tenha sofrido desgastes do eleitorado fortalezense", declara Artur Bruno, que conseguiu cerca de 26.400 votos para deputado estadual, dos quais 11.506 em Fortaleza.
Em 2010, Bruno foi o deputado federal mais votado na Capital, com 91.430 apoiamentos na cidade. "O partido tem que fazer uma reflexão, avaliar seus erros, se comunicar com a cidade para superar as dificuldades que tivemos", opina o parlamentar.
O petista reconhece que projetava uma votação mais expressiva da ex-prefeita Luizianne Lins. "Eu esperava que ambos fossem os mais votados da Capital. Ela por ter sido vereadora e deputada estadual com grandes votações e prefeita por oito anos e Elmano por ter sido candidato altamente competitivo (a prefeito de Fortaleza em 2012)", diz.
Mais votados
Luizianne passou dos 130 mil votos neste ano, 97 mil dos quais em Fortaleza. Elmano conquistou 44 mil, quase 29 mil na Capital. Moroni Torgan (DEM) foi o candidato que alcançou mais votos para a Câmara Federal, 277 mil, sendo 191 mil em Fortaleza. Dos postulantes a deputado estadual, o vereador Capitão Wagner (PR) liderou o ranking, com mais de 192 mil sufrágios no Estado, 102 mil deles na Capital.
O vereador Guilherme Sampaio - que se candidatou a deputado estadual, mas não foi eleito - atribui o desempenho do partido em Fortaleza ao tom da cobertura midiática sobre escândalos com suposta participação do PT e o peso do poder econômico nas eleições. "Houve desconstrução da imagem do Partido dos Trabalhadores em setores de comunicação e comprometeu o voto espontâneo que sempre tivemos".
"O desgaste da política afetou a classe média, que não se envolveu nas campanhas para deputado. Não é noticiar episódios em si, mas a forma como foram explorados, colando a imagem do PT à corrupção, o que é uma injustiça diante do que o partido fez nos últimos anos", completa, dizendo que a legenda levará o tema para discussão.
O cientista político Rui Martinho, professor da Universidade Federal do Ceará, diz que o desempenho do PT na capital cearense é um fenômeno que se repetiu no âmbito nacional. "O PT deixou de ser um partido urbano e passou a ser o partido do meio rural. O eleitorado do PT hoje tem a mesma distribuição geográfica da Arena (do regime militar), mais sensível ao clientelismo, assistencialismo", destaca.
Por sua vez, o coordenador do mestrado em políticas públicas da Universidade Estadual do Ceará, Horácio Frota, opina que houve mudanças no perfil do eleitorado do partido por conta das políticas que impactaram a vida de pessoas que não fazem parte da classe média intelectualizada que marcou a fundação da sigla. "O PT foi mudando sua base na definição das pessoas e grupos sociais beneficiados pela sua própria política em termo de representatividade", aponta.
Discussão ideológica
"Houve uma mudança da base originária para uma base não da discussão ideológica, mas como uma leitura de um partido que os representa e vai tendo inserção nas classes mais baixas. Aquele eleitorado mais intelectualizado que faz a discussão do ponto de vista teórico está dividido em PT, PSOL", complementa.
Para Rui Martinho, o partido perdeu representação junto ao seu eleitorado depois que saiu da oposição para a situação. "O partido que era estilingue passou a ser vidraça". E completa: "A aliança com figuras que o PT estigmatizava no passado, como Sarney e Maluf, também contribuiu. O PT perdeu credibilidade no seu tradicional eleitorado".
Lorena AlvesRepórter